segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

E assim se faz a midia...


A proposta de prorrogação da CPMF foi derrotada no Senado. Na posteridade do imbróglio parlamentar, a soberba midiática previu o Armagedon econômico do governo e a condenação ao inferno da oposição. Deitaram falação sobre as misérias da democracia à brasileira, encalacrada entre vergonha das negociações e os desrespeito à metafísica dos sábios da economia, a ciência triste. Não faltou quem soasse o alarme do decesso do regime, dilacerado pelo conflito nefando entre altos e baixos interesses. Devo conceder a honra da exceção ao editorial "Além da CPMF", da Folha de S.Paulo, edição de domingo, 16 de dezembro.
Pierre Bourdieu em seu pequeno livro "Sur la Television" cuidou de analisar os arroubos moralistas de âncoras, comentaristas e outros bichos de menor porte. Gide dizia que com bons sentimentos se faz má literatura". Mas, com bons sentimentos se faz audiência. É preciso refletir sobre o moralismo das gentes midiáticas: freqüentemente cínicos, eles propugnam por um conformismo moral absolutamente prodigioso. Os apresentadores de jornal televisivo, os animadores de debate, os comentaristas esportivos se transformaram em pequenos diretores de consciência, porta-vozes de uma moral tipicamente pequeno-burguesa. Dizem "o que é preciso pensar sobre os problemas da sociedade".

A sociabilidade moderna se move entre a inevitável pertinência a uma cultura produzida pela história e a pluralidade dos indivíduos "livres". A identidade, a começar pela linguagem, é "recebida" sem que o indivíduo seja indagado sobre suas preferências. Mas a história dessas sociedades "produziu" o mercado, a sociedade civil, suas liberdades e seus interesses. O sistema de necessidades e de interesses supõe, em seu desenvolvimento contraditório, a legitimidade das ações egoístas e interessadas, acomodada nos limites impostos pela lei emanada da soberania popular.

Essa forma peculiar de sociabilidade rejeita a autoridade da "ordem revelada" ou transcendências, religiosas, políticas (pseudo-revolucionárias), moralistas e midiáticas. Tais monstruosidades pretendem se colocar "fora" da bulha do mundo da vida e do exercício compartilhado da razão pelos cidadãos. Na sociedade contemporânea, não há lugar para tribunais privados e julgamentos auto-referidos do comportamento alheio, senão como uma grotesca reincidência no pecado do Orgulho, a ousadia de Lúcifer, o anjo decaído.

Infelizmente para os que se consideram acima do bem e do mal, mas felizmente para a sobrevivência da vida civilizada, a sociedade moderna está condenada a construir, pelo debate crítico - a continuada revisão das certezas provisórias - as suas próprias condições de avaliação e julgamento. Para quem não entende o que é debate crítico, cito, ainda uma vez, Cristopher Lasch: "a democracia requer um debate público vigoroso, não apenas informação. É óbvio que a informação é importante, mas o tipo de informação exigido na democracia só pode ser gerado pelo debate. Não sabemos o que precisamos saber até que possamos formular as questões corretas e só podemos saber quais são as questões corretas se submetermos nossas próprias idéias sobre o mundo ao teste da controvérsia pública". Para assumir a condição de sujeitos de direitos e deveres, os indivíduos são constrangidos a abdicar de sua moral particularista.

O consensus iuris é o reconhecimento dos cidadãos de que só o direito, ou seja, o sistema de regras positivas emanadas dos poderes do Estado e legitimados pelo sufrágio universal pode julgar e punir os que porventura se arriscam à violação da norma abstrata. É a garantia de que os mortais não serão condenados antecipadamente por opiniões autocráticas, pessoais e preconceituosas, sem que tenha ocorrido a prática, comprovada mediante contraditório, de transgressões sancionadas pela norma.

A mediação e a garantia do Estado são precárias, sugere Giorgio Agambem na esteira de Hobbes, pois a soberania é um frágil compromisso entre a natureza e a razão, o direito e a violência. E a violência decorre exatamente da tentativa - freqüentemente bem sucedida - de se impor ao outro, pela força física ou pela coação moral, o seu próprio julgamento, impostado como uma referência absoluta e infalível, acima de qualquer crítica.

A indigência crítica abre caminho para a selfrightousness. A língua inglesa tem uma palavra precisa para designar o estado de espírito dos indivíduos isolados que se consideram bons e virtuosos, em meio "à vulgaridade e às bandalheiras da sociedade": selfrighteousness. O Novo Michaellis é peremptório: selfrighteous, o cidadão que imposta a selfrightousness, é farisaico, hipócrita. Correta, porém precária, a tradução do respeitado dicionário. A estridência dos humanos direitos sugere que a selfrighteousness deixou de ser um vício individual para se transformar num fenômeno social retrógrado e antidemocrático.

Nas manifestações dos moralistas transcendentais, vejo a auto-convocação dos soi-disant iluminados para substituir a onisciência divina e, nessa condição, desferir os ucasses irrecorríveis do Juízo Final, em contraposição aos humanos, os pobres diabos que se debatem para sobreviver aos ditames da falibilidade e da incerteza. Fico a imaginar como seria a vida dos humanos falíveis se os jurados do Juízo Final empalmassem o poder na moderna sociedade de massas, crivada de conflitos e contradições. O mundo realizaria, se é que não está a realizar, as profecias de George Orwel em "1984" e de Aldous Huxley em "Brave New World".

Luiz Gonzaga Belluzzo




Segunda feira - Dia de Iemanja.



Paz e Luz!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007



"Mas veio um pai-de-santo benzer...
E o bicho danou-se a dançar..
Porque era um boi-de-mamão...
E esses tipo de boi teimam em ressuscitar."



Foto do encontro do Jaé com o Arrasta Ilha e Molho Madeira em Floripa, infelizmente não pude comparecer... Mais fica ai o registro de uma data que pelo que parece marcou as barras da saia de Catarina.


www.piruladacultura.blogspot.com

www.grupocapivara.multiply.com

www.jaeitajai.blogspot.com/




Paz e Luz!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007




"PROFANO não sei o que é isso não, agora religioso é quando os bombo bate, dá um arrepio no corpo e aquela coisa na alma. Isso é maracatu. E de baque virado viu fia?
Você já viu aquele toque, e cantando nagô, nagô (cantando)? Maracatu é candomblé, é pra gente se desmanchar na avenida".

Elda, Rainha da Nação Porto Rico.


http://jaeitajai.blogspot.com/



Paz e Luz!