sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

"Nunca arranje uma sogra chamada Esperança, que é a última a morrer"

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

AHHHHHHHHHHH MULEQUEEEEEE!!!

Divida Externa!? hahahah ja era!!!


BRASÍLIA – Após quitar a dívida de US$ 15,5 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil virou "dono de seu nariz", na opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta terça-feira, ele falou sobre o pagamento antecipado conta.

"Isso só foi possível porque o país conseguiu formar reservas internacionais de US$ 60 bilhões. Nós então quisemos anunciar ao mundo: acabou o tempo da colonização desse país", afirmou Lula, durante visita das obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Macapá.

O próximo passo, de acordo com o presidente, é continuar crescendo através das exportações para então auto-administrar sem precisar imposição do FMI.

"Não fizemos nenhum barulho, nenhuma bravata. Apenas quisemos dizer ao mundo que o Brasil atingiu a sua maioridade na sua política internacional, temos tranqüilidade para seguir em frente, temos tranqüilidade para crescer muito mais, gerar mais empregos".

O caminho indicado por Lula é crescer continuamente nos próximos dez anos para garantir uma estabilidade definitiva. Outra maneira é distribuir recursos para estados e municípios de forma cuidadosa.



fonte http://jbonline.terra.com.br/extra/2005/12/20/e20123639.html

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ainda na onda de Castro...

Segue texto escrito pelo nosso amigo e grande escritor blumenauense Maicon Tenfen.

Fidel é doido. Depois de trocar os manuais de advocacia por uma cartucheira e um uniforme verde-oliva, liderou o destacamento de 82 homens que, armados com facas e velhas espingardas, desembarcaram em Cuba para uma missão no mínimo extravagante: derrotar todo um exército e derrubar o governo pró-Washington de Fulgêncio Batista.

Fidel é otimista. As tropas do governo, que esperavam os rebeldes, metralharam e degolaram a grande maioria deles numa série interminável de emboscadas. Dos 82, sobraram dezessete. Quando finalmente se refugiaram na Sierra Maestra, um jovem e assustado Castro olhou para Che Guevara e disse: "Chegamos à serra. Os dias da ditadura estão contados."

Fidel é sacripanta. Depois de tomar Havana, apadrinhou julgamentos sumários e enviou seus inimigos ao paredón. Quando os Estados Unidos, antes calados para as atrocidades de Batista, começaram a chiar, Castro alegou que estava apenas obedecendo aos desejos do seu povo. Sem ficar vermelho, afirmou que "a justiça revolucionária está baseada não nos princípios legais, mas na convicção moral".

Fidel é come-quieto. Não saiu aos quatro ventos alardeando que era comunista. Primeiro iniciou a Reforma Agrária, nacionalizou indústrias e centralizou a economia. Em 1961, quando não dava mais para segurar a peteca sozinho, sentou-se no colo do Urso Soviético. A resposta veio em seguida, na Baía dos Porcos, com o ataque dos contra-revolucionários treinados pela CIA. A ilha reagiu à altura.

Fidel é bombástico. O mundo nunca esteve tão próximo do conflito extremo quanto em 1962, ano em que a URSS resolveu instalar 42 ogivas nucleares em Cuba. Os americanos acham que John Kennedy salvou o mundo. Há quem aposte no taco do Nikita Kruchev. Castro sabia que nenhum dos dois tinha culhões para apertar o botão vermelho.

Fidel é blindado. Exagero ou não, o serviço secreto cubano informa que, durante os 49 anos no poder, seu líder sofreu mais de 630 tentativas de homicídio.

Fidel é mágico. Manteve o regime depois da dissolução do bloco soviético.

Fidel é velho. Ontem admitiu sua "falta de condições físicas" para o trabalho e anunciou que não voltará a governar Cuba, o que representa o fim de uma era e o início de uma série de dúvidas sobre o futuro do socialismo tropical. A ilha continuará revolucionária, mítica e eternamente embargada? Voltará a ser o quintal do Tio Sam e das companhias que antigamente controlavam a produção de frutas e cana-de-açúcar? Encontrará uma terceira via no horizonte?

Em breve, muito em breve, a resposta...




Paz e Luz!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008




Fidel renúncia, dia histórico. E agora o que será de Cuba?
Irão seder as garras do Capitalismo?
Deicho registrado aqui esse dia!


"Não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-Chefe". Foi com essas palavras, publicadas em carta no jornal Granma, que o líder cubano Fidel Castro, 81, renúnciou, nesta terça-feira, a suas funções no governo de Cuba.
Fidel ocupava o poder desde 1959 quando, acompanhado de um punhado de guerrilheiros, desceu de Sierra Maestra para derrubar o ditador Fulgêncio Batista. Começava ali a Revolução Cubana.

Desde 2006, ele vinha se recuperando de uma série de cirurgias. Por conta dos problemas de saúde, Fidel já havia transferido algumas funções a seu irmão Raúl Castro, 76, na estrutura de poder do país.

Desde a Revolução, Cuba, obteve melhorias na maioria de seus indicadores sociais - especialmente educação e saúde. Os opositores de Fidel, contudo, nunca deixaram de criticá-lo pela falta de liberdades políticas na Ilha.

O líder cubano quase iniciou, em 1962, uma guerra nuclear com os Estados Unidos - na chamada Crise dos Mísseis e, avesso a reformas, assistiu à distância a queda do Muro de Berlim e o colpaso da União Soviética.

Com o fim da ajuda do bloco socialista, Cuba passou por enormes dificuldades econômicas nos anos 90, que ficaram conhecidas pelos cubanos como "Período Especial".

Mesmo afastado do poder, Fidel faz um último lembrete na carta de renúncia publicada pelo Granma:

- Não me despeço de vocês. Desejo apenas combater como um soldado das idéias.


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Segue carta escrita de renúncia de Fidel ao Jornal Cubano Granma.

"Prometi a vocês na sexta-feira, 15 de fevereiro, que na próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. A mesma adquire desta vez a forma de mensagem.

Chegou o momento de postular e escolher o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário.

Desempenhei o honroso cargo de presidente ao longo de muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto livre, direto e secreto de mais de 95% dos eleitores.

A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro daquele ano e elegeu o Conselho de Estado e sua Presidência.

Antes, tinha exercido o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.

Sabendo de meu estado grave de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado, que deixei nas mãos do primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, em 31 de julho de 2006, fosse definitiva.

O próprio Raúl, que adicionalmente ocupa o cargo de Ministro das FAR (Forças Armadas Revolucionárias) por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do partido e do Estado foram resistentes a me considerarem afastado dos meus cargos, apesar do meu estado precário de saúde.

Minha posição era incômoda frente a um adversário que fez tudo o imaginável para se desfazer de mim e ao qual não queria agradá-lo.

Mais adiante, pude recuperar o controle total da minha mente, a leitura e meditar muito, devido ao repouso. Tinha forças físicas suficientes para escrever por longas horas, o que fazia durante a reabilitação e os programas de recuperação. Um elementar bom senso me indicava que essa atividade estava a meu alcance.

Por outro lado, sempre me preocupei, ao falar da minha saúde, em evitar ilusões de que, no caso de um agravamento do quadro adverso, trariam notícias traumáticas a nosso povo no meio da batalha.

Prepará-lo para minha ausência, psicológica e politicamente, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta.

Nunca deixei de destacar que se tratava de uma recuperação 'não isenta de riscos''. Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último momento. É o que posso oferecer.

A meus compatriotas, que fizeram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo âmbito devem ser adotados acordos importantes para o destino de nossa Revolução, comunico a vocês que não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-Chefe.

Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa Mesa Redonda da televisão nacional, que foram divulgadas por minha solicitação, foi incluídos discretamente elementos da mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das mensagens conhecia meu propósito.

Confiei em Randy porque o conheci bem quando ele era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos alunos, que já eram conhecidos como o coração do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se abrigavam. Hoje, todo o país é uma imensa universidade".

Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 de dezembro de 2007: "Minha mais profunda convicção é de que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana - que possui uma média educacional próxima de 12 graus, quase um milhão de pessoas com ensino superior completo e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem nenhuma discriminação - requerem mais soluções para cada problema concreto do que as contidas em um tabuleiro de xadrez.

Nenhum detalhe pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária prevalece sobre seus instintos.

Meu dever elementar não é me perpetuar em cargos, ou impedir a passagem de pessoas mais jovens, mas fornecer experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que pude viver. Penso como (Oscar) Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final".

Carta de 8 de janeiro de 2008: "Sou decididamente partidário do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo bloco socialista, entre elas a figura de um candidato único, tão solitário e ao mesmo tempo tão solidário com Cuba.

Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças à qual pudemos continuar o caminho escolhido.

Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe em um grão de milho.

Portanto, trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total que não estou em condições físicas de oferecer. Explico sem dramas.

Felizmente nosso processo conta ainda com quadros da velha-guarda, junto a outros que eram muito jovens quando começou a primeira etapa da Revolução.

Alguns quase crianças se incorporaram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Contam com autoridade e experiência para garantir a substituição.

Dispõe igualmente nosso processo da geração intermediária que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.

O caminho sempre será difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologética, ou da autoflagelação como antítese. É preciso se preparar sempre para a pior das hipóteses.

Ser tão prudentes no êxito quanto firmes na adversidade é um princípio que não pode ser esquecido. O adversário a derrotar é extremamente forte, mas o mantivemos longe durante meio século.

Não me despeço de vocês. Desejo apenas lutar como um soldado das idéias. Continuarei a escrever sob o título 'Reflexões do companheiro Fidel'. Será mais uma arma do arsenal com o qual se poderá contar. Talvez minha voz seja ouvida. Serei cuidadoso".

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Paz e Luz!!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Jorge Luiz Borges, um grande escritor latino-americano.


Como todos os homens da Babilônia, fui pro-cônsul; como todos, escravo; também conheci a onipotência, o opróbrio, os cárceres. Olhem: à minha mão direita falta-lhe o indicador. Olhem: por este rasgão da capa vê-se no meu estômago uma tatuagem vermelha: é o segundo símbolo, Beth. Esta letra, nas noites de lua cheia, confere-me poder sobre os homens cuja marca é Ghimel, mas sujeita-me aos de Alep, que nas noites sem lua devem obediência aos de Ghimel. No crepúsculo do amanhecer, num sótão, jugulei ante uma pedra negra touros sagrados. Durante um ano da Lua, fui declarado invisível: gritava e não me respondiam, roubava o pão e não me decapitavam. Conheci o que ignoram os gregos: a incerteza. Numa câmara de bronze, diante do lenço silencioso do estrangulador, a esperança foi-me fiel; no rio dos deleites, o pânico. Heraclides Pôntico conta com admiração que Pitágoras se lembrava de ter sido Pirro e antes Euforbo e antes ainda um outro mortal; para recordar vicissitudes análogas não preciso recorrer à morte, nem mesmo à impostura.
Devo essa variedade quase atroz a uma instituição que outras repúblicas desconhecem ou que nelas trabalha de forma imperfeita e secreta: a loteria. Não indaguei a sua história; sei que os magos não conseguem por-se de acordo; sei dos seus poderosos propósitos; o que pode saber da Lua o homem não versado em astrologia. Sou de um país vertiginoso onde a loteria é a parte principal da realidade: até o dia de hoje, pensei tão pouco nela como na conduta dos deuses indecifráveis ou do meu coração. Agora longe da Babilônia e dos seus estimados costumes, penso com certo espanto na loteria e nas conjecturas blasfemas que ao crepúsculo murmuram os homens velados.

Meu pai contava que antigamente — questão de séculos, de anos? — a loteria na Babilônia era um jogo de caráter plebeu. Referia (ignoro se com verdade) que os barbeiros trocavam por moedas de cobre, retângulos de osso ou de pergaminho adornados de símbolos. Em pleno dia verificava-se um sorteio: os contemplados recebiam, sem outra confirmação da sorte, moedas cunhadas de prata. O procedimento era elementar, como os senhores vêem.

Naturalmente, essas "loterias" fracassaram. A sua virtude moral era nula. Não se dirigiam a todas as faculdades do homem: unicamente à sua esperança. Diante da indiferença pública, os mercadores que fundaram essas loterias venais começaram a perder dinheiro. Alguém esboçou uma reforma: a intercalação de alguns números adversos no censo dos números favoráveis. Mediante essa reforma, os compradores de retângulos numerados expunham-se ao duplo risco de ganhar uma soma e de pagar uma multa, às vezes vultosa. Esse leve perigo (em cada trinta números favoráveis havia um número aziago) despertou, como é natural, o interesse do público. Os babilônios entregaram-se ao jogo. O que não adquiria sortes era considerado um pusilânime, um apoucado. Com o tempo esse desdém justificado duplicou-se. Eram desprezados aqueles que não jogavam, mas também o eram os que perdiam e abonavam a multa. A Companhia (assim começou então a ser chamada) teve que velar pelos ganhadores, que não podiam cobrar os prêmios se nas caixas faltasse a importância quase total das multas. Propôs uma ação judicial contra os perdedores: o juiz condenou-os a pagar a multa original e as custas, ou a uns dias de prisão. Todos optaram pelo cárcere, para defraudar a Companhia. Dessa bravata de uns poucos nasce todo o poder da Companhia: o seu valor eclesiástico, metafísico.
Pouco depois, as informações dos sorteios omitiram as referências de multas e limitaram-se a publicar os dias de prisão que designava cada número adverso. Esse laconismo, quase inadvertido a seu tempo, foi de capital importância. Foi o primeiro aparecimento, na loteria, de elementos não pecuniários. O êxito foi grande. Instada pelos jogadores, a Companhia viu-se obrigada a aumentar os números adversos.

Ninguém ignora que o povo da Babilônia é devotíssimo à lógica, e ainda à simetria. Era incoerente que se computassem os números ditosos em moedas redondas e os infaustos em dias e noites de cárcere. Alguns moralistas raciocinaram que a posse das moedas não determina sempre a felicidade e que outras formas de ventura são talvez mais diretas.

Inquietações diversas propagavam-se nos bairros desfavorecidos. Os membros do colégio sacerdotal multiplicavam as apostas e gozavam de todas as vicissitudes do terror e da esperança; os pobres (com inveja razoável ou inevitável) sabiam-se excluídos desse vaivém, notoriamente delicioso. O justo desejo de que todos, pobres e ricos, participassem por igual na loteria, inspirou uma indignada agitação, cuja memória os anos não apagaram. Alguns obstinados não compreenderam (ou simularam não compreender) que se tratava de uma ordem nova, de uma necessária etapa histórica... Um escravo roubou um bilhete carmesim, que no sorteio lhe deu direito a que lhe queimassem a língua. O código capitulava essa mesma pena para o que roubava um bilhete. Alguns babilônios argumentavam que merecia o ferro candente, na sua qualidade de ladrão; outros, magnânimos, que se devia condená-lo ao carrasco porque assim o havia determinado o azar... Houve distúrbios, houve efusões lamentáveis de sangue; mas a gente babilônica finalmente impôs a sua vontade, contra a oposição dos ricos. O povo conseguiu plenamente os seus generosos fins. Em primeiro lugar, conseguiu que a Companhia aceitasse a soma do poder público. (Essa unificação era indispensável, dada a vastidão e complexidade das novas operações.) Em segunda etapa, conseguiu que a loteria fosse secreta, gratuita e geral. Ficou abolida a venda mercenária de sortes. Iniciado nos mistérios de Bel, todo homem livre participava automaticamente dos sorteios sagrados, que se efetuavam nos labirintos do deus de sessenta em sessenta noites e que demarcavam o seu destino até o próximo exercício. As conseqüências eram incalculáveis. Uma jogada feliz podia motivar-lhe a elevação ao concílio dos magos ou a detenção de um inimigo (conhecido ou íntimo), ou a encontrar, nas pacíficas trevas do quarto, a mulher que começava a inquietá-lo ou que não esperava rever; uma jogada adversa: a mutilação, a infâmia, a morte. Às vezes, um fato apenas — o vil assassinato de C, a apoteose misteriosa de B — era a solução genial de trinta ou quarenta sorteios. Combinar as jogadas era difícil; mas convém lembrar que os indivíduos da Companhia eram ( e são) todo-poderosos e astutos. Em muitos casos, teria diminuído a sua virtude o conhecimento de que certas felicidades eram simples fábrica do acaso; para frustrar esse inconveniente, os agentes da Companhia usavam das sugestões e da magia. Os seus passos e os seus manejos eram secretos. Para indagar as íntimas esperanças e os íntimos terrores de cada um, dispunham de astrólogos e de espiões. Havia certos leões de pedra, havia uma latrina sagrada chamada Qaphqa, havia algumas fendas no poeirento aqueduto que, conforme a opinião geral, levavam à Companhia; as pessoas malignas ou benévolas depositavam delações nesses sítios. Um arquivo alfabético recolhia essas notícias de veracidade variável.
Por incrível que pareça, não faltavam murmúrios. A Companhia, com a sua habitual discrição, não replicou diretamente. Preferiu rabiscar nos escombros de uma fábrica de máscaras um argumento breve, que agora figura nas escrituras sagradas. Essa peça doutrinal observava que a loteria é uma interpolação da casualidade na ordem do mundo e que aceitar erros não é contradizer o acaso: é confirmá-lo. Salientava, da mesma maneira, que esses leões e esse recipiente sagrado, ainda que não desautorizados pela Companhia (que não renunciava ao direito de os consultar), funcionavam sem garantia oficial.

Essa declaração apaziguou os desassossegos públicos. Também produziu outros efeitos, talvez não previstos pelo autor. Modificou profundamente o espírito e as operações da Companhia. Pouco tempo me resta; avisam-nos que o navio está para zarpar; mas tratarei de os explicar.

Por inverossímil que seja, ninguém tentara até então uma teoria geral dos jogos. O babilônio é pouco especulativo. Acata os ditames do acaso, entrega-lhes a vida, a esperança, o terror pânico, mas não lhe ocorre investigar as suas leis labirínticas, nem as esferas giratórias que o revelam. Não obstante, a declaração oficiosa que mencionei instigou muitas discussões de caráter jurídico-matemático. De uma delas nasceu a seguinte conjectura: Se a loteria é uma intensificação do acaso, uma periódica infusão do caos no cosmos, não conviria que a casualidade interviesse em todas as fases do sorteio e não apenas numa? Não é irrisório que o acaso dite a morte de alguém e que as circunstâncias dessa morte — a reserva, a publicidade, o prazo de uma hora ou de um século — não estejam subordinadas ao acaso? Esses escrúpulo tão justos provocaram, por fim, uma reforma considerável, cujas complexidades (agravadas por um exercício de séculos) só as entendem alguns especialistas, mas que intentarei resumir, embora de modo simbólico.

Imaginemos um primeiro sorteio que decrete a morte de um homem. Para o seu cumprimento procede-se a um outro sorteio, que propõe (digamos) nove executores possíveis. Desses executores quatro podem iniciar um terceiro sorteio que dirá o nome do carrasco, dois podem substituir a ordem infeliz por uma ordem ditosa (o encontro de um tesouro, digamos), outro exacerbará (isto é, a tornará infame ou a enriquecerá de torturas), outros podem negar-se a cumpri-la... Tal é o esquema simbólico. Na realidade o número de sorteios é infinito. Nenhuma decisão é final, todas se ramificam noutras. Os ignorantes supõem que infinitos sorteios requerem um tempo infinito; em verdade, basta que o tempo seja infinitamente subdivisível, como o ensina a famosa parábola do Certame com a Tartaruga. Essa infinitude condiz admiravelmente com os sinuosos números do Acaso e com o Arquétipo Celestial da Loteria, que os platônicos adoram... Um eco disforme dos nossos ritos parece ter reboado no Tibre: Ello Lampridio, na Vida de Antonino Heliogábalo, refere que este imperador escrevia em conchas as sortes que destinava aos convidados, de forma que um recebia dez libras de ouro, e outro, dez moscas, dez leirões, dez ossos. É lícito lembrar que Heliogábalo foi educado na Ásia Menor, entre os sacerdotes do deus epônimo.

Também há sorteios impessoais, de objetivo indefinido; um ordena que se lance às águas do Eufrates uma safira de Taprobana; outro, que do alto de uma torre se solte um pássaro, outro, que secularmente se retire (ou se acrescente) um grão de areia aos inumeráveis que há na praia. As conseqüências são, às vezes, terríveis.

Sob o influxo benfeitor da Companhia, os nossos costumes estão saturados de acaso. O comprador de uma dúzia de ânforas de vinho damasceno não estranhará se uma delas contiver um talismã ou uma víbora; o escrivão que redige um contrato não deixa quase nunca de introduzir algum dado errôneo; eu próprio, neste relato apressado, falseei certo esplendor, certa atrocidade. Talvez, também, uma misteriosa monotonia... Os nossos historiadores, que são os mais perspicazes da orbe, inventaram um método para corrigir o acaso; é de notar que as operações desse método são (em geral) fidedignas; embora, naturalmente, não se divulguem sem alguma dose de engano. Além disso, nada tão contaminado de ficção como a história da Companhia... Um documento paleográfico, exumado num templo, pode ser obra de um sorteio de ontem ou de um sorteio secular. Não se publica um livro sem qualquer divergência em cada um dos exemplares. Os escribas prestam juramento secreto de omitir, de intercalar, de alterar. Também se exerce a mentira indireta.

A Companhia, com modéstia divina, evita toda publicidade. Os seus agentes, como é óbvio, são secretos; as ordens que distribui continuamente (talvez incessantemente) não diferem das que prodigalizam os impostores. Para mais, quem poderá gabar-se de ser um simples impostor? O bêbado que improvisa um mandato absurdo, o sonhador que desperta de súbito e estrangula a mulher a seu lado, não executam, porventura, uma secreta decisão da Companhia? Esse funcionamento silencioso, comparável ao de Deus, provoca toda espécie de conjecturas. Uma insinua abominavelmente que há séculos não existe a Companhia e que a sacra desordem das nossas vidas é puramente hereditária, tradicional; outra julga-a eterna e ensina que perdurará até a última noite, quando o último deus aniquilar o mundo. Outra afiança que a Companhia é onipotente, mas que influi somente em coisas minúsculas: no grito de um pássaro, nos matizes da ferrugem e do pó, nos entressonhos da madrugada. Outra, por boca de heresiarcas mascarados, que nunca existiu nem existirá. Outra, não menos vil, argumenta que é indiferente afirmar ou negar a realidade da tenebrosa corporação, porque a Babilônia não é outra coisa senão um infinito jogo de acasos.



Otimo final de semana.

Paz e Luz!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

DIGA NÃO A VERTICALIZAÇÃO DA PRAIA BRAVA - ITAJAI.


Ambientalistas apontam irregularidades no projeto que propõe
liberar construção de prédios na Praia Brava

Entidades que compõem o movimento sócio-ambientalista de Itajaí e região questionam Projeto de Lei que propõe o aumento no número de andares permitidos em construções na orla marítima da Praia Brava. O projeto foi encaminhado à Câmara de Vereadores no último dia 23 de novembro, pelo prefeito Volnei Morastoni, e prevê a liberação para a construção de edifícios com até seis andares na avenida da praia, com até nove andares na segunda quadra, chegando a doze andares na terceira. De acordo com integrantes de diversas entidades de proteção ambiental da região, a aprovação do projeto transformaria completamente o cenário da Praia Brava, hoje caracterizada por conservar resquícios de Mata Atlântica que garantem um ambiente natural diferenciado, com dunas e restinga em processo de recuperação, incluindo áreas classificadas como de proteção permanente. Um oásis em meio à ocupação urbana ao redor. A localização da Praia Brava desperta interesses diversos, inclusive do setor imobiliário e de construção civil, que enxerga no local a possibilidade de total verticalização.

?O principal problema do projeto é que ele já esteja indo para votação na Câmara de Vereadores sem qualquer estudo de impacto ambiental e sem uma discussão mais ampla junto à comunidade?, aponta Cláudia Severo, presidente da Unibrava, uma das entidades não governamentais que apresentou um parecer técnico e jurídico indicando irregularidades no projeto apresentado pelo executivo municipal. Também assinam o documento as ongs V Ambiental - Voluntários pela Verdade Ambiental e Associação de Surf Praias de Itajaí (ASPI). As entidades também questionam a legalidade da proposta frente ao Estatuto da Cidade e ao Plano Diretor, já que nenhum estudo ambiental foi feito, nem mesmo estudo de impacto de vizinhança. O documento indica ainda que existe uma ?completa inobservância do projeto de lei quanto à utilização dos institutos jurídicos adequados para implementar o modelo do PLANDETURES-L, uma vez que desrespeita por completo as observações dispostas no Plano Diretor de Gestão e Desenvolvimento Territorial de Itajaí (Lei Complementar n° 94 de 22 de dezembro de 2006) e conseqüentemente as diretrizes presentes na Lei Federal 10.257/ 2001 (Estatuto da Cidade) e os princípios previstos no artigo 182 da Constituição da República Federativa do Brasil.?

Para Caio Floriano dos Santos, da V Ambiental, que acompanha há anos os impactos ambientais sobre a Praia Brava e realizou um estudo sobre o uso e ocupação do local ? é preciso que a comunidade decida o destino da Praia Brava considerando outras possibilidades para o local, além da proposta urbanística do projeto de lei municipal. São os moradores, turistas, visitantes e empreendedores (os investidores privados, como aparece no texto do projeto de lei encaminhado pelo prefeito) que devem decidir em conjunto que tipo de atividade deverá ser implementada no local, qual será o uso mais adequado para a praia. Já que o modelo proposto pelo executivo municipal está vinculado ao Plandetures - Plano de Desenvolvimento Turístico, Econômico, Ecológico e Socialmente Sustentável, é preciso que a comunidade local defina inclusive que tipo de turismo se deseja praticar ali, comenta Floriano. Estudos realizados pela UNIVALI em parceria com a Universidade dos Açores e também pela V Ambiental indicam que mais de 90% dos freqüentadores da Praia Brava querem sua conservação e a valorizam justamente por esse diferencial, que a coloca como uma das raras praias do litoral catarinense que ainda não foi totalmente verticalizada. Este tem sido o maior atrativo para os turistas que procuram a Praia Brava, e que têm gerado renda e trabalho para muitos itajaienses.

?Não entendemos porque tanta pressa em votar um projeto que pode alterar definitivamente o modo de vida de uma das últimas localidades com características agrestes, capaz de atrair a atenção de apreciadores diversos?, comenta Cláudia Severo. A problemática envolvendo a Praia Brava é tão complexa que já reúne um processo de degradação ambiental e outro de perturbação do sossego contra o Warung ? a Prefeitura também é ré neste último; uma ação criminal de degradação ambiental contra o empreendimento Praia Brava Internacional, que estava sendo proposto para o Canto do Morcego; uma ação civil pública pedindo o embargo na obra do empreendimento chamado Ecovila, no morro cortado; e ainda o cumprimento da sentença que determina a demolição do ?Forte da Brava?. Cláudia lembra que a Prefeitura também é ré em um outro processo e foi condenada a realizar obras de reubarnização na Praia Brava, incluindo recuperação das dunas, estacionamento e saneamento básico. ?Somos contra a votação desta lei sem uma maior discussão comunitária e estudos ambientais e sem que a Prefeitura cumpra a sentença já determinada para a Praia Brava, incluindo saneamento básico e recuperação da vegetação e dunas?, afirma.

As entidades sócio-ambientais exigem que se cumpra a lei e se realize uma audiência pública para informar e discutir com outros representantes da comunidade e autoridades os impactos deste projeto sobre o meio ambiente local. Paralelamente, um abaixo-assinado está circulando entre moradores e freqüentadores da praia, dizendo ?não? ao projeto que permite a construção de prédios de até 12 andares na Brava. V Ambiental, Unibrava e ASPI recomendam pedido de vistas ao projeto e solicitam mais informações sobre a proposta do executivo municipal antes que seja votado na Câmara de Vereadores. Caso a matéria seja votada nesta quarta-feira, dia 19, em caráter emergencial, integrantes do movimento sócio-ambientalista prometem organizar pela manhã, uma manifestação popular contra a aprovação do projeto em frente à Câmara de Vereadores.


NÃO A VERTICALIZAÇÃO!!!!!


* A lei foi aprovada para construção!!!



NÃO A VERTICALIZAÇÃO!!!!!!



Paz e Luz!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Numa mesa de bar fictício, alguns amigos discutiam o futuro da música na Bahia e no mundo, sufocados de vez em quando pelo som altíssimo, e já um tanto trincados pela cerveja. Quantos anos ainda vamos ter de aturar esse malabarismo chulo de vai, vai, vai, vai descendo, que do ponto de vista da música não é nem malabarismo, nem chulo, é apenas um saco?

Você sempre fala com esse arzinho de elite baiana, tudo bem, pode ter saturado um pouco, mas você esquece que esse é todo um processo de libertação, uma sincronizada reação de superação étnica. Aí tô fora!

Meu amigo Gabi, um verdadeiro príncipe da percussão da Bahia, aquele, que já contei que toca percussão em banda de carnaval ouvindo outra música pelo walk-man (e quem quiser experimente fazer isso, é mais difícil do que o teste para entrar na sinfônica), ele olha com desdém algumas dessas músicas baratas, que não têm a nobreza nem o valor musical do universo dos toques de candomblé; a raiz africana é muito, muito mais que isso.

Vocês não falaram do principal, esses saracoteios lânguidos são extremamente lucrativos, dão dinheiro e projetam a imagem da Bahia lá fora, está muito melhor agora do que quando importávamos as bobagens.

Isso é verdade, mas é também um dos maiores problemas, hoje em dia todo mundo lá fora pensa que baiano é especialista em dança da bundinha (até em congresso de engenharia), e esse aspecto de libertação étnica acaba servindo mais aos grandes empresários do que ao povão, e o que fazer com todo o resto de nossa riqueza étnica (negra, branca ou indígena)?

Na década de 30 eu ía a Itapajipe cantar "São Paulo já ganhooou foi na regata, Vitória e Itapajipe arrastaram lata".

Ma tu é velho hein, meu?

Além disso, a globalização (lá vem o filósofo da globalização...), pois é, deixa eu falar, a globalização cria uma expectativa de que haja algo local que possa ser projetado, mas essa valorização do local pode ser bastante homogeneizadora, só serve o que passa no filtro, e aí você acaba estimulando um macaqueamento do local; Quem foi que pintou o berimbau? Não sei. Quem foi que pintou aquelas pedras na Centenário? Também não sei.

Deixa isso prá lá, precisamos fazer algo pela Bahia...

O que, por exemplo? Não precisa ir longe, pegue a percussão, somos um celeiro de grandes percussionistas, mas o que acontece de melhor em termos de criatividade aqui na Bahia é um festival com a produção de fora. A área de percussão (combinada com vozes) poderia produzir coisas novas, artistas capazes de percorrer o mundo todo com um produto que fosse ao mesmo tempo local, étnico e criativo.

Não seria difícil nem caro manter um pequeno conjunto de percussão (com jovens selecionados para estágios de um ano) que fosse um emblema da Bahia lá fora.

Você não está querendo impingir uma vanguarda européia ou americana aqui na Bahia, está? Não, nada disso, estou falando de batuque, só que criativo, inusitado, mas já que você tocou no assunto, Cage poderia ser um refresco eventual para os saracoteios lânguidos.

Mas voltando ao caso, como? Sei lá... talvez um concurso, uma mostra, uma maratona, para grupos de percussão e voz, incentivando esse lado criativo, que já ligaria com a poesia e com a dança. Você acha que o mercado já não faz esse concurso anualmente, dividindo o espaço do carnaval?

Faz, mas a pressão do lucro e da comunicação instantânea é forte demais, esse concurso teria que nascer com apoio institucional, para ser algo educacional e atrativo. Se a Bahia conseguir unir essa força comunicativa com a riqueza étnica e um pouquinho de espírito aventureiro artístico ninguém nos alcança.

Quase todos os adolescentes de Salvador fazem parte de alguma banda (ou querem fazer), e muitos deles querem dizer algo novo (veja como adoram o saudoso Raul Seixas), passar uma nova mensagem, mas como? Eles esbarram neles próprios, na ignorância musical dos currículos da escola secundária (salvo alguma exceção), no que ouvem de forma mais imediata, uma cópia canhestra de rock, pop, pagode ou reggae.

Pois é, se alguma coisa fosse criada para incentivar essa palavra nova que precisa ser dita, mas incentivar mesmo, talvez o bum-bum e as cópias canhestras fossem superados, talvez a produção violonística mais sofisticada pudesse vazar para os ouvidos que a merecem. Talvez a música de Milton Gomes voltasse a ser tocada (Navios Negreiros, com percussão e tudo), com o impacto e a profundidade que tem, e Silvio Deolindo Froes...

Talvez aqueles valores espalhados pelos cantinhos da Bahia (chula, forró, reisado, marujada, samba de roda...) pudessem dizer que existem na mídia, sem apropriações devidas ou indevidas dos mais famosos. Talvez eu ouvisse mais vezes no shopping a emocionante Gira Estrela, de Ernst Widmer, e, quem sabe, comemorar os 60 anos de Lindembergue Cardoso (30/06/99) com pompa e circunstância. Talvez, talvez, talvez, quem sabe, pois é, quiçá....

Garçom, aqui nessa mesa de bar .... traz a conta por favor!



Axé!

Paz e Luz!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008



Encontro de Batuqueiros realizado pelos amigos do Grupo Jaé (Itajai).

Paricipação:

Itamboritá.
Arrasta Ilha.
Capivaras.




Meus parabéns a todos do Jaé pelo empenho e por receber todos de braços abertos!


Axé!


Paz e Luz!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008



Olha ali ohhhhh... MARACATU CAPIVARA =P hahahaha como é lindo nosso Grupo! =P
Até na TV aparecemos!!! hahaha

Vespera de Carnaval!!!
Boraaa povoooo!!!

Sabe quando dizem esperamos 365 dias pelo carnaval!?
Então ele CHEGOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

Isso é Braasil nego!!!!!

...ver minha escola perdendo ou ganhando mais um carnaval, antes de me despedir peço ao sambista mais novo o meu pedido final..

CARNAVALLLLLLLLLLLLLLL 2008.


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Adorei esse texto abaixo a intenção de hoje era colocar algo direcionado para o carnaval, mais não posso deichar de postar esse texto que li hoje pela manhã.


As solenidades de casamento são um verdadeiro laboratório para o estudo do imaginário nas diversas classes sociais brasileiras, e em especial para a classe média alta, que encara a ocasião como um encontro com sua própria legitimidade.
Tudo aquilo que às vezes se esconde no cotidiano aparece de corpo inteiro nesses momentos sagrados onde o imperativo de estar fazendo o melhor e o mais adequado para os filhos - e sempre tendo em vista o olhar da sociedade presente - impera.

Mas exatamente "o quê" aparece de corpo inteiro, além daquelas duas senhoras ali na frente que esbanjaram no shantun e no crepe Georgette, em decotes que tendem a mostrar carnes saltitantes ou saltitosas, e xales europeus de charme e desnecessidade gritantes... Por que será que esses dez modelos de escova progressiva insistem em captar minha atenção? - há sempre uma neo-loura desafiando a cervical e balançando os cabelos de um lado pro outro.

Pois é: entre vestidos de organza, chiffon ou tafetá, aparece esse desejo um tanto grotesco de trazer pra perto de si ares da aristocracia francesa, de roliud em dia de óscar, em suma, de ambiente glamuroso proporcionando de forma palpável uma sensação de sucesso e de prosperidade.

Cercada de pobreza por todos os lados, a classe média alta brasileira convive diariamente com o medo de descer alguns degraus em direção à miséria do populacho. Que o casamento seja justamente uma negação desse perigo, uma afirmação de potência e distinção, não espanta.

A solenidade assume portes de grande produção e pode envolver máquina de fumaça (para uma entrada triunfante da noiva) recepção com DJ, buffet com camarões em cascata, "violino encantado" abrindo alas para o cortejo nupcial, lembranças, manobristas, champagne e tudo mais que a imaginação colonial ofereça como atributo de um paraíso orgástico e cerimonial. O conteúdo poucas vezes é levado em consideração.

A música da solenidade geralmente é organizada em pequenos fragmentos cronometrados pelo tamanho da nave, misturando ave-marias diversas, sucessos antigos, fanfarras e trompetadas, clássicos de sempre, música de filmes famosos, uma ou outra excentricidade escolhida pelo casal, tudo isso amarrado pela coerência infalível da marcha nupcial.

Aliás a gente "fina" vive mudando de regras, inventando modas, e sempre estabelecendo uma fronteira bem clara com relação ao gosto dos pobres ou remediados, que nas mesmas festas de casamento vestem lamê, esbanjam na renda de nylon, preferem mega-hair, mangas bem cavadas e sutiã de alça de silicone, além é claro, das tradicionais soluções visuais que passam pelo prateado brilhante cravejado de pedras...

Nas igrejas mais modestas os casamentos são marcados a uma distância de meia hora. Já presenciei a incrível cena onde a noiva das 19h entrou com o noivo das 18:30h no altar (pois a sua própria havia atrasado). Foi um quiprocó danado. Como resolver a questão? Sai a noiva andando na trajetória contrária, ou sai discretamente o noivo legítimo das 18:30? Ninguém queria ceder. Laúza completa.

Um olhar comparativo sobre os dois imaginários tão brasileiros - o da classe média alta e o dos pobres e remediados - acaba levando a uma pergunta constrangedora. Como decidir qual o mais grotesco: a imitação, ou a imitação da imitação?

Aliás essa é a pergunta que não quer calar com relação à atitude cultural no Brasil. Os casamentos são apenas um dos cenários possíveis. Há inúmeras situações onde esses padrões se repetem...

Uma coisa me parece clara. Pelo menos o estilo dos pobres tem uma inocência tão exposta que quase se aproxima da autenticidade. A classe média podia fazer melhor, mais verdadeiro. Será?

Quando o sermão e demais vocalizações dos celebrantes são meramente formais e vazios, ou simplesmente reforçando os dogmas católicos (como agora parece ser a norma) a ambiência lustrosa e acetinada dos ricos parece potencializar essa dolorosa sensação de vazio.

Entre mulheres que se produziram demais (muitas vezes com efeitos contrários), cavalheiros de terno e gravata, muitas flores e alabastros, pequenas lágrimas de canto de olho, stress e nervoso de produção, e custos bastante consideráveis, vai passando a classe média alta, exagerando em quase tudo pela necessidade visceral de se imaginar menos classe média, menos colônia e menos mestiça.

Paulo Costa Lima,


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AXÉ!!!