quinta-feira, 29 de maio de 2008

O choro...

Há um gênero musical que quando em vez tem algum destaque nos meios de comunicação, mas em geral fica restrito ao público mais especializado. Trata-se do Choro, esse sofisticado e criativo gênero que destaca a versatilidade do músico brasileiro, que, a exemplo da "Bossa Nova" no Brasil e do Jazz nos Estados Unidos, poderia ser melhor explorado como "marca" e produto nacional.

É de se lamentar que esse potencial seja tão pouco explorado em termos de cultura popular e valorização do que é nosso, em detrimento de tão baixa qualidade média da programação de emissoras de rádio e TV, salvo honrosas e, cada vez mais raras, exceções.

Outra oportunidade desperdiçada é divulgá-lo mais intensamente no exterior como "produto" de exportação que poderia gerar empregos para músicos e gerar divisas para o País. Nos lugares em que o choro penetrou por interesse e iniciativa de fãs do gênero, como o Japão, por exemplo, o sucesso mostra que isso é plenamente viável, desde que haja ações no sentido de promover maior visibilidade da música brasileira em mercados potenciais.

Li recentemente o excelente livro "Choro: do quintal ao municipal" do cavaquinista e pesquisador musical Henrique Cazes que, em pouco mais de duzentas páginas nos traz um panorama ilustrado e bem documentado do surgimento e evolução do gênero no Brasil. Cazes ressalta que, a partir da inspiração de músicos do século XIX em interpretar com criatividade gêneros importados como a polca, a schottish, a valsa e o tango, entre outras, criou-se o choro como modo brasileiro, preconizado por pioneiros como Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga e os geniais Ernesto Nazareth e Pixinguinha.

O que se observou ao longo do tempo foi uma seqüência de virtuoses do gênero, com destaque para Jacob do Bandolin, Waldir Azevedo e Radamés Gnatalli, para destacar alguns, mas que felizmente não parou por aí. A cada ano surgiram grandes músicos e hoje espalhados pelos poucos espaços de execução e apresentação pelo país afora se observa com relativa constância o surgimento de novos talentos.

Não querendo ser saudosista, mas resgatar algo que foi muito bom, que foi a iniciativa da criação do Clube do Choro, que funcionou em São Paulo, no final dos anos 1970 até o final dos oitenta, transformado em bar na Rua João Moura, em Pinheiros. Me lembro de apresentações memoráveis de Paulinho da Viola, Conjunto Época de Ouro, Nelson Cavaquinho e Roberto Silva, entre outros, além, é claro, de músicos pouco conhecidos do grande público, mas nem por isso menos talentosos, como Xixa (cavaquinho), Carioca (violão de sete cordas) e a potente voz de Rubão, um cantor fantástico, todos eles infelizmente já falecidos, e a revelação de jovens talentos como Miltinho Mori (bandolim), Charles (flauta), Danilo (bandolim), e muitos outros.

Era interessante observar a reação do público na rua, extasiado com as apresentações. O que mostra que grande parte da pouca penetração do Choro nas grandes massas certamente se deve muito mais ao desconhecimento do gênero e seus artistas, do que uma questão de gosto.

Infelizmente, os interesses imediatos das gravadoras e da mídia, assim como a ausência de iniciativas de educação musical básica da população continuam restringido a riqueza do choro a uma minoria privilegiada! Vamos mudar isso?


Já escutou um chorinho hoje!?
Minha dica de hoje é:

Jacob do Bandolim e Conjunto Época de Ouro - Vibrações (1967)

Segue link para baixar para quem se interessar!

http://lix.in/7bd5375c


...

Aqui em Blumenau - SC temos um trabalho muito bacana de um pessoal que se chama "Alegria do Choro". Gostaria de parabeniza - los pelo lindo trabalho proposto por eles!



Grande abraço.


Bruno Leonardo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O mundo...

O mundo vai se acabar em raves.
O mundo vai se acabar em Victor e Leo.
O mundo vai se acabar em desmatamento.
O mundo vai se acabar...
Acabar...
Acabar com a mente das pessoas...
Vamos todos virar zumbis alienados?!




*Nada contra música eletrônica e mto menos contra sertanejo (gosto não se discute). Mais isso ainda vai acabar com a mente das pessoas!

terça-feira, 13 de maio de 2008

"VIVA 13 DE MAIO NEGRO LIVRE NO BRASIL, MAIS NA BEM DA VERDADE FOI UM PRIMEIRO DE ABRIL".


Texto escrito por Claudia Eggert.
O encontro foi realizado pelo grupo Jaé de Itajjai. Foi muito bom por sinal!


Este final de semana fomos acampar. Era o Encontro Regional de Batuqueiros, em Camboriú.

Organizado pelo Jaé, grupo de maracatu e pesquisas rítmicas de Itajaí, o encontro teve a participação de quase 50 pessoas de 5 grupos diferentes: Jaé (Itajaí), Grupo Capivara (Blumenau), Arrasta Ilha (Florianópolis), Maracaeté e Estrela do Sul (ambos de Curitiba).

Na abertura na sexta feira à noite, todos se apresentaram e falaram um pouco de seus grupos, a história de cada um, sua situação em sua cidade.

Uma coisa que me chamou muito a atenção, foi que em todas as cidades, os grupos de maracatu enfrentam dificuldades de achar espaço para ensaio. A justificativa é que o maracatu não faz parte da cultura das cidades representadas.

Blumenau é de colonização alemã, Floripa e Itajaí, portuguesa e Curitiba, principalmente polonesa e italiana, dentre outras várias, todas européias.

Então me perguntei: só europeus construíram nossas cidades?

não exitiam índios e negros escravos?

Na época da escravatura, quase 50% da população brasileira era de escravos e o resto eram pessoas livres.. e brancas.

Ora, se a metade da população não era européia e sim africana, então a metade da cultura dos lugares deveria ser também africana. E é. Só que não é falado, pois para o brasileiro o que vem de fora é melhor. Leia-se de fora como Europa, ou mais atualmente EUA, África não é de fora, África não conta. África não tem ciência.

No texto anterior, a pesquisadora Rosane Volpatto afirma que a cultura negra está em todas as manifestações culturais, religiosas e cotidianas brasileiras. Todo mundo sabe disso.

Por que então continuar com a discriminação contra a cultura africana?
Por que então continuar com a afirmação de que a cultura do local é germânica ou portuguesa ou italiana somente?

O que acredito que deveria ser aumentado é a auto estima, a auto valorização das pessoas que representam esta cultura, pois por mais que acreditemos na influência dela na cultura brasileira, nós mesmos justificamos e achamos certo manter a tradição européia como principal e até única.

Não podemos pensar assim. Não podemos deixar que só as culturas européias sejam consideradas como base de tudo de bom que acontece no Brasil e que a cultura africana seja considerada a base de tudo de ruim que o brasileiro tem.
Nossa alegria mesmo frente às desgraças do dia-a-dia, nosso jogo de cintura, nossa raça, graça, nosso suingue, é tudo de origem africana.

A padroeira do Brasil é negra!!!!

A cultura nordestina é cultura brasileira, assim como a cultura gaúcha também o é, a mineira, a carioca, a capixaba....
Difundir as culturas locais é mostrar ao mundo que o Brasil é o país mais miscigenado, e não só nas cores das pessoas, mas na cultura também, e isso é bom.

O Brasil é um grande caldeirão onde todas as culturas do mundo se juntaram. E todas devem ser respeitadas.

É por isso que eu luto, pela igualdade de oportunidades, pela igualdade de direitos entre os sexos, pela igualdade de direitos entre as cores. Pela igualdade de valorização das culturas. Mas sempre respeitando as diferenças.

Claudia Eggert.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Baixo QI, nem vou comentar sobre isso por que não vou perder meu tempo.
Mais segue a entrevista ao Terra Magazine do grande Tom Zé sobre esse infeliz comentário de Antônio Dantas.

Boa leitura... Ahhh ressalto a explicação do Tom Zé quanto ao berimbau!!!

Para o cantor Tom Zé, as declarações do coordenador do curso de medicina da UFBA, Antônio Dantas, sobre o "baixo QI" (quociente de inteligência) dos baianos são uma "coisa inocente, completamente sem base".

- Alguns grupos são particularamente influencidados pela filosofia do niilismo americano que tá na televisão e aí aparecem esses fenômenos - critica.

As declarações foram dadas por Dantas à Folha de S. Paulo nesta quarta-feira para justificar o resultado desfavorável obtido pelo curso, o mais antigo do país, no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Os alunos tiveram nota 2 na avaliação - numa escala que vai de 1 a 5.

O coordenador do curso de medicina não foi localizado pela reportagem para comentar o assunto. Ele disse ainda que baiano "toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais não conseguiria".

- Há uma exigência maior de sensibilidade para tocar o berimbau - defende Tom Zé. - O berimbau é uma coisa muito mais complexa do que essa coisa de uma corda só. Não foi feito para tocar música ocidental, foi feito para outra concepção de mundo - explica.

Ao fim da conversa, Terra Magazine agradeceu respeitosamente ao "senhor" Tom Zé pela atenção dada à reportagem.

- O senhor tá no céu, deixe de ser moleque - diverte-se.

A seguir os principais trechos da entrevista com Tom Zé.

Terra Magazine - O coordenador do curso de medicina da UFBA declarou que...
Tom Zé - Fale devagar que eu ouço mal.

O curso de medicina da UFBA teve um resultado ruim no Enade. O coordenador do curso, Antônio Dantas, atribuiu isso ao "baixo QI" dos baianos. O que o senhor acha disso?
(às gargalhadas) Que maravilha. E ele não é baiano não?

É baiano.
Essa declaração não merece nem...é uma coisa inocente, completamente sem base em coisa nenhuma. Nenhuma população de nenhum canto do Brasil pode ser avaliado como (tendo) baixo QI. O que acontece é que em alguns momentos alguns grupos são particularamente influencidados pela filosofia do niilismo americano que tá na televisão e aí aparecem esses fenômenos. Mas aí pode aparecer na Bahia, em qualquer lugar; isso é bobagem.

Ele também disse que o baiano só toca o berimbau porque tem um corda só; se tivesse mais de uma, não conseguiria tocar. O senhor ao que parece toca outros instrumentos além do berimbau, não?
(risos) É...naturalmente. Não é só isso. Primeiro que o berimbau que compõe uma....tá gravando?

Sim, estamos.
Deixa eu dizer editado pra você botar aí: o berimbau faz parte de uma cultura que enriquece a Bahia e o fato dele ter uma corda só é um dado complicador que fala bem dos que tocam esse instrumento ao invés de falar mal. É uma exigência maior de sensibilidade para tocar o berimbau, é uma exigência maior de sensibilidade e adequação. Precisa compreender qual é a função dele dentro da mítica da capoeira porque o berimbau tem uma microtonalidade especialmente difícil para pessoas educadas na escala diatônica ocidental. O berimbau é uma coisa muito mais complexa do que essa coisa de uma corda só. A riqueza timbrística dele e a funcionalidade dele...o berimbau não foi feito para tocar música ocidental, foi feito para outra concepção de mundo. É isso que se precisa compreender.

Há um certo preconceito ao dizer isso, que o baiano toca o berimbau só porque tem uma corda?
Não, tem uma falta de entendimento da delicadeza da matéria (risos).

E quanto à questão do QI baixo?
Pô, aí é o que eu disse: nesse Brasil, principalmente a Bahia, que é um mundo diferente do Brasil, uma cultura diferente e muito rica, nem lá e em nenhum canto do Brasil se pode acusar grupo social de QI baixo. Isso é uma espetacularidade na declaração, é uma estratégia dele. Talvez funcione até para os termos em que ele tá interessado. Mas isso absolutamente não acontece. Esse problema de QI baixo começou a acontecer na Europa, com aquele casamento de primos durante séculos e séculos. E a Bahia é uma terra muito plural do ponto de vista da miscigenação, onde a espécie humana - muito pelo contrário - está muito sensibilizada para compreensões mais metafísicas da vida. Agora, realmente com essa massificação do niilismo americano que bota na televisão uma cultura de massas absolutamente imoral, de repente um pequeno grupo na Bahia, ou em São Paulo, ou no Rio Grande do Sul - não, tire o Rio Grande do Sul disso - ou no Rio de Janeiro podem estar muito dominados pela cultura, muito....

Suscetíveis a isso, vamos dizer.
Isso, suscetíveis a isso. Perfeito, você completou bem. (Suscetíveis) a essa cultura do crime que Hollywood, que o desespero da vida americana está divulgando pelo mundo.