sexta-feira, 17 de abril de 2009

Bairrismo ambiental

Essa guerra em torno dos códigos ambientais ainda vai dar pano para a manga. Luiz Henrique da Silveira está conseguindo dividir a irresponsabilidade do seu governo com a população de Santa Catarina. Ao transformar o debate ecológico numa disputa de forças entre o Estado e a União, ele presta dois desserviços à comunidade catarinense. Primeiro por sancionar leis que possibilitam o retrocesso dos projetos de preservação da natureza, e segundo por discutir em “politiquês” um tema que necessita de todo o amparo técnico disponível. Quando opõe a autonomia local à “centralização arrogante de Brasília”, o governador alimenta sentimentos bairristas e, bela estratégia, recruta um exército de inocentes úteis.

Somada à falta de diplomacia de Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente, essa rebeldia em nome do atraso tem fortalecido a imagem de Luiz Henrique. Se até seus adversários na Assembleia Legislativa estão vociferando contra o “autoritarismo do governo federal”, o que não esperar das entidades ligadas à economia agrícola? Isso significa que o debate em torno do código não passa de mais um item da gincana eleitoral de 2010. As árvores caem, os políticos dividem os votos e os ambientalistas falam para as paredes. A propósito, por que será que os especialistas foram ignorados durante os debates que antecederam a aprovação do código?

É um erro imaginar que o pequeno agricultor será beneficiado com a oportunidade de despejar agrotóxicos ou construir chiqueiros a cinco metros dos rios. O aumento da área cultivável pode ser lucrativo nos próximos 10 anos, mas como ficará a propriedade depois? Se já está difícil hoje em dia porque – vamos admitir – nossos pais e avós trabalharam de forma predatória, por que insistir no processo? Mesmo que seja efetivado, até quando o código ambiental continuará em vigor? Que tipo de restrição as próximas gerações terão de enfrentar para permanecer na terra? Queremos plantar o vento do imediatismo para que nossos netos colham a tempestade da escassez?

Outra coisa que me intriga é a retórica espetaculosa que os deputados usaram antes, durante e depois da votação do código: “é uma data histórica”, “Santa Catarina é diferente do resto do Brasil”, “nossos pobres agricultores clamam por socorro”. Sugiro cuidado com a astúcia desse pessoal. Alguém acredita que os políticos realmente estejam preocupados com os pequenos produtores rurais? Tirando as abstenções, não houve votos contrários ao código. Como diria Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra!