"Tempos atrás, os malvadinhos eram os gays, as mulheres “prafrentex”, os negros, os “crentes”, tudo que fosse diferente dos padrões que a classe média solidificou a partir da Segunda Grande Guerra. Visto que agora o mundo é outro, globalizado, regido por culturas convergentes (mas atenção: só converge o que nos interessa!), não dá para desfiar a cartilha do moralismo praticado pelas nossas tias carolas."
Maicon Tenfen.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Esse texto é parte da série de crônicas sobre Sustentabilidade publicada na
CBN*
Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de
uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os
colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os
melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e
o intelecto de novos conhecimentos.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação
formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas
evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um
tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da
capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e
fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a
janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a
sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou
expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o
flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra
a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que,
aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra
denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que
segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para
se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude
censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma
ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até
hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A
letra diz o seguinte:
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se
fosse doença? E as pessoas nunca percebem.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais
comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à
mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo
no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir
e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra
'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um
versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre
um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um
negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan
'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra
fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine
ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos
negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos"
, mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a
mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico,
semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes
humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona,
frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos,
despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito,
e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de
inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica
aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é
motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que
entra, mas o que sai da boca do homem".
Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder
de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo
as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da
Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável.
O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas,
reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a
ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa
a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111
detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São
Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do
valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor
para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos. ..*
*Rosana Jatobá*
*Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias
ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do
Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo. **
CBN*
Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de
uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os
colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os
melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e
o intelecto de novos conhecimentos.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação
formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas
evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um
tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da
capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e
fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a
janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a
sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou
expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o
flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra
a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que,
aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra
denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que
segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para
se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude
censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma
ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até
hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A
letra diz o seguinte:
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se
fosse doença? E as pessoas nunca percebem.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais
comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à
mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo
no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir
e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra
'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um
versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre
um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um
negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan
'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra
fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine
ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos
negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos"
, mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a
mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico,
semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes
humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona,
frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos,
despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito,
e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de
inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica
aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é
motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que
entra, mas o que sai da boca do homem".
Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder
de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo
as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da
Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável.
O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas,
reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a
ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa
a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111
detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São
Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do
valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor
para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos. ..*
*Rosana Jatobá*
*Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias
ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do
Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo. **
terça-feira, 13 de outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Tamba Trio - 1963
Tamba Trio - Avanço (1963)
Standards da bossa nova orquestrados de forma absolutamente harmônica, com muitos números instrumentais e arranjos delicados e brilhantes. Clássico.
Luiz Eca
(piano, arranjos, diretor musical)
Bebeto
(contra-baixo, sax tenor, sax baritono, flauta)
Helcio Milito
(percussão, bateria)
Paticipação:
Durval Ferreira
(violão)
Um pouco de história...
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Tamba_Trio_)
O Tamba Trio foi um conjunto musical formado na década de 1960. Formado originalmente por Luiz Eça (piano, vocal e arranjos), Bebeto Castilho (contrabaixo, flauta, sax e vocal) e Helcio Milito (bateria, percussão e vocal), o Tamba Trio começou a tomar forma ainda acompanhando a cantora Maysa e depois a cantora Leny Andrade em uma temporada na boate Manhattan, atuando ao lado de Luiz Carlos Vinhas (piano) e Roberto Menescal (violão). A partir de 1967, com a entrada do baixista Dório Ferreira, Bebeto passaria a atuar apenas como flautista, transformando assim o trio no quarteto Tamba 4. Dois anos depois, com a saída de Luiz Eça, que formaria o seu grupo "A Sagrada Família", o pianista Laércio de Freitas entra em seu lugar. O quarteto duraria até 1970. Só em 1972, o Tamba Trio retorna com os três integrantes originais, gravando dois discos pela gravadora RCA. Em 1976, mais um intervalo, e seis anos depois, o grupo volta, fazendo apresentações e gravando o LP "Tamba Trio 20 Anos de Sucesso". A partir de 1989, o baterista Rubens Ohana, que já tinha feito parte do Tamba Trio, se reintegra a este conjunto, substituindo Hélcio Milito. O grupo continuou até 1992, quando Luiz Eça veio a falecer. O trio também acompanhou artistas como Carlos Lyra, Edu Lobo, Nara Leão, Sylvia Telles, Quarteto em Cy e João Bosco.
Confira:
http://rapidshare.com/files/109661847/TambaTrioAvanco-zl.zip
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
DVD - Cauby Peixoto
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Banda Malungo - Blumenau
A banda MALUNGO é formada por amigos que no início de 2008 resolveram se juntar em prol da boa música brasileira. A banda teve sua primeira formação com três integrantes, mas era preciso inserir mais groove junto as percussões que davam o andamento e a identidade da banda. Hoje a banda conta com mais um Malungo, o baixista Bruno Hellmann.
Apesar do pouco tempo de estrada, a banda possui importantes apresentações na cena local, se apresentando em eventos como o Festival universitário de teatro de Blumenau; eventos com as bandas Tarrafa Elétrica (Itajaí), Tribus da Lua (Bnu), Gaia (Bnu) e Salve-Salve (Bnu), e diversos shows pelos bares de Blumenau e região.
Malungo tem suas principais influências na Black Music do consagrado Tim Maia, no Samba Rock de Jorge Ben e no peso do Movimento Manguebeat do saudoso caranguejo com cérebro Chico Science.
O som vem da guitarra cantante de Jaison Hinkel (voz, guitarra e violão), acompanhada de composições próprias que fogem do óbvio. No andamento da bateria de Natan Hostins e da percussão de Cléb Lima – e seu inseparável cavaco – somados ao groove do Baixo de Bruno, a música mostra sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a riqueza de suas linhas rítmicas e harmônicas.
MALUNGO é: Batuque, Balanço e Groove.
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