sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Ele é bonito, jovem e além de tudo bronzeado". Em menos de oitenta segundos a frase do presidente do conselho de ministros italiano Silvio Berlusconi, comentando a eleição de Barack Obama, deu a volta ao mundo. Provocando risadas meio forçadas entre os que presenciavam à entrevista coletiva no Krêmlin, e vergonha e indignação de muitos italianos, que continuam a pedir desculpas na mídia.

Tem até um banner para ser inserido nos sites, que reza "I'm Italian and prime minister Silvio Berlusconi is not speaking in my name", (sou italiano e o primeiro ministro Silvio Berlusconi não está falando em meu nome). (Eu teria escolhido uma frase menos formal, tipo "desculpem, ele está gagá.")

Um leitor italiano escreveu ao New York Times frisando: "não somos todos iguais a ele". Um outro explicou: "Berlusconi é só um reflexo do racismo que se respira na Itália". Para reconquistar um mínimo da simpatia internacional, o chefe do governo italiano aproveitou a visita oficial do presidente Lula à Itália para esbanjar simpatia: no jantar em que se encontrou com Lula, chegou rodeado pelos jogadores brasileiros do seu time, o Milan. Elogiou Lula e declarou que tem inveja dele como defensor dos pobres: uma frase que, dita por um dos homens mais ricos do mundo, não tem muita credibilidade.

Voltando à gracinha sobre Barack Obama, Berlusconi, desta vez, não desmentiu suas próprias palavras como costuma fazer. Nem pediu desculpas. Preferiu optar por um ataque direto a jornalistas e políticos que deram realce à falta de graça e de diplomacia da sua frase: "Esses aí que me criticam não sabem o que é senso de humor; são uns imbecis e uns coglioni".

"Coglione" é um dos adjetivos prediletos do primeiro ministro italiano, que usou e abusou dele para definir seus adversários políticos e os eleitores de esquerda. É o modo mais grosseiro e chulo que a língua italiana oferece para dizer "cretino".

Voltando de Moscou, numa coletiva em Bruxelas, perdeu a calma quando Steve Scherer, jornalista americano da agência Bloomberg, lhe perguntou se havia pedido desculpas a Obama. Berlusconi respondeu com agressividade: "Você também está nesse grupo (de imbecis e coglioni). Peça desculpas à Itália". Só faltou acusar o Steve de ser um perigoso comunista.

Berlusconi começou mal com o novo presidente dos Estados Unidos, mas o Vaticano também já deu sinais de que não está gostando do homem mais amado do planeta. As recentes declarações do cardeal Javier Lozano Barragan, o ministro da saúde da Santa Sé, provaram que Bento XVI deve ter rezado muito pela vitória de John McCain. O cardeal se declarou preocupado pela atitude de Barack Obama a propósito da suspensão da proibição de pesquisas médicas com células embrionárias.

O novo presidente dos EUA defende a vigente lei do aborto em seu país e as pesquisas com todos os tipos de células-tronco, e nos dois casos se choca com a doutrina católica da bioética. Bento XVI apreciava muito as posições do protestante George W. Bush a respeito dessas questões. Mas a diplomacia vaticana já sentiu que vai ter que mudar de alianças e de política internacional, na nova fase aberta pela eleição de Barack Obama.

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