terça-feira, 22 de abril de 2008

Caso Isabella - LEIA COM ATENǘAO!!!



Segundo a Folha de S. Paulo, o caso Isabella fez a audiência dos telejornais crescer até 46%. O dado vale para todos os formatos e para todas as emissoras, do Jornal Nacional ao Jornal da Globo, do Brasil Urgente (Band) ao Balanço Geral (Record). Para acompanhar o andamento das investigações, esses programas mobilizaram equipes com até 30 repórteres e 20 cinegrafistas cada. O próprio SBT, que possui menos de 10 repórteres em São Paulo, deixou metade do seu time vigiando o 9º Distrito Policial e o prédio onde fica o apartamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.

Além dos telejornais, os programas de auditório, de entrevistas e de propaganda religiosa também entraram na jogada. Delegados, juristas, vizinhos, testemunhas, populares, todo mundo foi ouvido em rede nacional, todo mundo exigiu justiça, todo mundo pôde expressar pânico e repulsa diante do mais monstruoso dos crimes. O programa Fala que Eu te Escuto reconstituiu o homicídio com atores. Em outro canal, alguém manchava uma fralda de sangue (tinta vermelha) e mostrava como os peritos da polícia trabalham sobre uma prova.

Mais uma vez, como se vê, os meios de comunicação lucraram com a desgraça alheia. No entanto, descontando o exagero, a insensibilidade e certas concessões a um sensacionalismo antiquado e oportunista, não vejo sentido em culpar os jornais e a televisão por terem se comportado como urubus que se aproximam da carniça. É que a morte de Isabella, infelizmente, reuniu todos os elementos que fazem a alegria - sim, a alegria, por incrível que pareça - do grande público pagante: um pai frustrado e desequilibrado, uma madrasta que obedece ao figurino dos contos de fadas, um monte de bobocas querendo aparecer e um "final feliz" que pune os culpados e recupera a ordem do universo.

Como resultado, acompanhamos o caso como quem acompanha uma novela sem roteiro ou um Big Brother em retrospecto. Após deplorar a crueldade e a falta de sentido do mundo moderno, escovamos os dentes e deitamos em nossas camas.

- Por que mataram a menina? - perguntamos. - Por quê?

Ninguém é capaz de responder, mas isso não tem importância. Quietinhos sob nossos cobertores, subimos um novo degrau da escada humanitária. Estamos no lado oposto da tragédia. Somos bons, portanto, e é assim que aguardaremos as cenas do próximo capítulo. Os urubus tornarão a cair sobre a carniça, querem mais é disputar os melhores pedaços. Farão isso porque seus filhotes - nós, o grande público pagante - estão com as bocas incansavelmente abertas, piando, esperando.

Maicon Tenfen.

Um comentário:

Craudinha Egg disse...

meu, bruno..
onde tu arruma esses textos do tenfen?
adoro-os..
parabéns por postá-los.. muito massa.
bjins