quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Foi realmente uma falta de respeito o que aquele jornalista iraquiano fez com George Bush. Onde já se viu atirar um sapato na cara do presidente dos Estados Unidos? É ultrajante. Por que não atirou uma torta de chantilly, uma cobra de brinquedo ou um punhado de pulgas? Depois o bobalhão arremessou tão mal que deu tempo para o Bush desviar. Todo mundo viu quando o “coiso” se abaixou por trás do microfone – um movimento bem gingado, convenhamos – e logo voltou para a posição inicial com o sorriso de quem diz “ahá, seu otário, você errou!” Perder a oportunidade de nocautear um canalha desse quilate não tem outro nome: é uma bruta e injustificada falta de respeito com a comunidade mundial.

Para evitar que se repitam decepções do tipo, sugiro que de agora em diante os cursos de jornalismo incluam no currículo alguma disciplina que prepare os profissionais para arremessos mais precisos. Além dos aspectos físicos, será necessário um intenso condicionamento psicológico. Na frente de anti-cristos, bestas-feras e cancros da humanidade, tendemos a sentir medo e fraquejar, a oferecer ao alvo instantes de hesitação suficientes para que possa se esquivar e continuar rindo às nossas custas.

Modéstia à parte, nós escritores possuímos uma psiquê mais propícia a enfrentamentos do gênero. Como prova do que digo, cito o autor de livros infantis Yves Hublet e as bengaladas que aplicou no então deputado José Dirceu. Verdade que o ataque saiu meio torto; apesar da ponta de ferro, a bengala quase não causou estragos na cabeça do mensaleiro. Mesmo assim, foram golpes mais felizes que aquele sapato voando pelos ares.

Acho que todo governo em fim de mandato deveria passar por avaliação semelhante. Um presidente, um governador ou um prefeito se posicionariam diante de felizardos que poderiam optar entre dois arremessos iraquianos ou duas bengaladas hubletianas. Engana-se quem pensa num espetáculo de crueldade. O político ficaria livre para pular de um lado para outro e, a cada esquiva bem sucedida, teria o direito de imitar Bush e rir na cara do agressor. Em contrapartida, seria obrigado a agüentar tantas lambadas quantas fosse capaz de resistir em pé. Em caso de desmaio, o vice o substituiria até o fim da avaliação.

Só tem um detalhe: caso os sapatos ou as bengalas se percam no vazio, devemos evitar que o arremessador seja punido pelos pares. No caso do jornalista iraquiano, os próprios colegas o encheram de sopapos!

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