terça-feira, 20 de novembro de 2007



19 a 24 de novembro - Semana da Consciência Negra.

20 de novembro - Dia de Zumbi dos Palamares.

O Dia da Consciência Negra foi criado para homenagear não apenas Zumbi dos Palmares, mas todos os brasileiros afro-descendentes. Nada mais justo.

No dia da Consciência Negra muitos terão a sua consciência negra (em minúsculo). Por favor, não venham com o papo politicamente correto que consciência negra é fruto da opressão dos homens brancos. Quando você esquece algo você não diz que deu branco? Se o seu filho deixar a prova em branco você ficará feliz?

Não nego que os reflexos da escravidão estão em toda a parte. A prova disto é o feriado prolongado em que brancos viajarão e negros os servirão.

Estou endividado e não pude viajar. Bom, pelo menos não enfrentei o caos no aeroporto. Não penso assim. Penso que poderia ter levado minha família para um lugar próximo. Vejo as cidades cheias. Cheias de “brancos” gastando dinheiro e de “negros” servindo-os. Num dos países com as piores desigualdades sócias de todo o mundo não me surpreende que a maioria dos negros permaneçam nas novas senzalas.

Sou afro-descendente. Não sou branco. Não sou negro. Sou mestiço como a maioria da população. Sou contra as cotas raciais. Entretanto respeito muito aqueles que a consideram importante. Se não fosse esta discussão o papel dos negros nas universidades continuaria limitado a servir e ensinar (em casos raros). Também não acho que ser afro-descendente me credencia a ser a favor ou contra as cotas. Existe a opinião de oportunidade. Se você nasceu verde defenderá naturalmente o verde porque não poderá nunca ser vermelho. Se você é azul existe a tendência de defender os interesses azuis porque você nunca foi e nunca será amarelo.

Os negros através da história provaram que precisam apenas de oportunidades. Como vieram das senzalas para as favelas nada mais natural dentro da realidade de descaso do Brasil que sejam a maioria dos pobres, presidiários e desassistidos. Estatísticas inúteis nesta época do ano dizem que negros ganham mais que brancos. Oh, descobriram a pólvora. Não caio nessa. Com o tempo, nós afro-descendentes, tornaremos mais fortes na classe-média. Imagino mais mestiços e negros ricos em poucas décadas. Sou otimista. Falta apenas tempo e chance para demonstrarmos nosso valor. Vamos ficar de braços cruzados? Vamos aceitar novas Cruzadas? Não. Mas não precisamos de esmolas. Vamos lutar pelo nosso valor. E quando falo “nós” falo de todos aqueles desamparados pela cúpula ignorante do Brasil. Sejam brancos, amarelos ou verdes com bolinhas roxas.

Sou contra qualquer programa de “esmolas”. Estes programas servem sempre para manter os líderes de movimentos mais ricos, enquanto a maioria é iludida. Não existe almoço grátis. Não existem raças. Entretanto, não concordo com Ali Kamel. O Brasileiro é racista e preconceituoso sim. As cotas num país mestiço a tornam ainda mais racistas e preconceituosas. Quem é você para definir que A, B ou C é 50% isto ou 50% aquilo. Este é um método nazista. Eu odeio o nazismo. “O fascismo é fascinante e deixa a gente ignorante, fascinada”. Oh, Yeah!

O que eu queria falar não era de cotas ou das bolsas-esmolas da vida. Sou contra o nome do feriado. Este nome é horrível. O Dia da Consciência Negra dá margem aos brasileiros com pele mais clara reclamarem do Dia da Consciência X, Y e Z. Dá margem a que só os negros tem feriado, que 19 de abril também deveria ser ou ser criado o Dia da Consciência Caucasiana. Até parece que não existem mestiços no Brasil. Alô leitor, você é provavelmente mestiço de uma forma ou outra. Sou a favor de instituir o feriado de 20 de novembro como feriado nacional (por enquanto foi promulgado em apenas 200 cidades brasileiras).

Sou a favor que o dia 20 de novembro seja dia de Zumbi dos Palmares, um herói nacional.

Você sabe quem foi Zumbi dos Palmares? Você sabe o que significa Zumbi? Acredito que a maioria dos brasileiros e inacreditavelmente a maioria dos afro-descendentes não saibam. Não sabemos nossa história, não sabemos de onde viemos. Não podemos tirar dupla-cidadania. Não temos dados de nossos antepassados. Isto é que devemos lutar. O resto é com o tempo. O implacável tempo.

A palavra Zumbi significa "duende" em quimbando, uma língua africana. É originária do "nzumbi". Ao contrário do que muitos imaginam Zumbi não nasceu escravo. Francisco, um brasileiro, um negro, um herói nacional, que depois adotaria o nome Zumbi, nasceu no quilombo dos Palmares, hoje no Estado de Alagoas, provavelmente em 1655. Este quilombo era uma comunidade auto-sustentável. Como o quilombo dos Palmares era formado por 30 mil escravos negros fugidos o governo temia que fossem criados países dentro do Brasil. Principalmente com a gradativa libertação dos escravos. Já viu o Lesoto no sul da África? Pois é, eles queriam evitar enclaves dentro do país. O pais africano encravado no interior da África do Sul, mas a história é outra.

Assim como muitos, Zumbi foi capturado quando criança. Aos seis anos conheceu a escravidão, aprendeu o português e o latim e foi batizado como Francisco. Aos quinze anos fugiu e retornou para sua cidade natal. Aos vinte anos era respeitado por ser um bom lutador e estrategista militar.

Em 1678 Ganga Zumba, primeiro líder do Quilombo dos Palmares e tio de Zumbi, aceitou a proposta de paz com o governo. Pelo acordo, todos os escravos fugidos seria considerados livres. Em troca o governador da Capitania de Pernambuco exigia à submissão à autoridade da Coroa Portuguesa. Se não pode vencê-los, junte-se a eles.

Zumbi não só desconfiava deste acordo como não achava justo que apenas eles fossem considerados livres, enquanto milhões de negros permaneceriam como escravos. Zumbi desafiou a liderança de Ganga Zumba. Com apoio do quilombo sucedeu seu tio, tornando-se o novo líder do quilombo de Palmares.

Durante quinze anos o governo tentou em vão acabar com o quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 Palmares foi invadido e sua capital, Macaco, destruída. Na luta Zumbi foi ferido, mas conseguiu fugir. Dois anos depois foi denunciado por um antigo companheiro. Zumbi foi capturado, condenado e morto pelo Estado. Sua cabeça foi exposta em praça pública no Recife. Um recado do governo que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.

Zumbi é motivo para que evitemos “acordos” proveitosos. As cotas são estes acordos que Ganga Zumba achou que era um bom negócio. Zumbi é um herói nacional e devemos fazer que o feriado seja em seu nome para que os motivos de sua morte sejam repetidos, ensinados e comentados. A história de Zumbi não é uma história apenas do opressor e do oprimido, mas dos oprimidos que seguram qualquer migalha, como os restaurantes a um real, o bolsa-família que só deixam os opressores mais ricos. A história de Zumbi ensina que não importa a cor, nem a sua posição. Importa é que não podemos nos deixar levar por facilidades, temos de lutar por nossos direitos.

Respeito a memória de Ganga Zumba. Sua decisão foi baseada em defender o quilombo. Respeito as opiniões dos que são favoráveis as ações afirmativas. A lógica é defender a maioria da população. Mas sou contra porque o caminho mais fácil nem sempre é o melhor, quase nunca o é.

A traição de Zumbi foi feita por um negro. Judas era judeu, traiu seu amigo judeu Jesus. Afirmar que uma pessoa é confiável pela sua cor ou religião é o mesmo nível de preconceito que não confiar em outra apenas por ser de outra cor ou religião. Pensem nisso.


"Quem garante que Palmares se entregou, quem garante que Zumbi você matou?"


VIVA ZUMBI!!!



Paz e Luz!

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