sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Algo errado no ar.

Um leitor me perguntou se eu estava dormindo durante os desdobramentos do Caso Eloá:

– Qualé, Maicon!? Ficas aí contando piadinhas bestas e comentando livros que ninguém lê enquanto o maior assunto do momento passa batido?

Respondi ao leitor em particular – como respondo agora aos leitores em geral – que prefiro escrever sobre a mais inútil das banalidades a ficar fazendo fita com a desgraça alheia. Podem me chamar de hipócrita se quiserem, mas a verdade é que essa hiperexposição do caso tornou-se nociva a todos, não apenas ao pai de Eloá.

Não nego que o assunto seja cativante. A expectativa sobre o que aconteceria às duas adolescentes e ao próprio Lindemberg representa nosso inalienável interesse nos destinos e desatinos da humanidade. A partir de um determinado ponto, porém, a coisa degringolou e, como praxe, transformou-se em espetáculo circense, em show de horrores, em Big Brother com direito a paredão e armas de verdade.

As televisões disputaram nossa audiência como se tudo não passasse de uma corrida de cães em Las Vegas. Mordemos a isca, infelizmente, fascinados que estávamos com a demora do cativeiro e com o Gate agindo como se estivesse numa comédia do Jerry Lewis.

Como saber quando a cobertura de uma notícia dessa natureza ultrapassou os limites? Tenho três dicas:

1) quando o noticiário insiste por muito tempo no mesmo tema e, como um seqüestrador armado e ciumento, nos obriga a lhe dar atenção;

2) quando a notícia passa a integrar a programação de atrações que não são necessariamente jornalísticas, como programas de auditório e shows de variedades;

3) quando apresentadores e “repórteres” apelam para os instintos e as lágrimas dos envolvidos.

Nada disso é informação, mas telenovela. Indício de que está na hora de mudar o canal. Sim, mudar de canal, ou então dar um off na TV, porque não adianta criticar a mídia enquanto comemos pipoca diante dos abusos. Na época do caso Isabella, comparei as televisões a um bando de urubus que trazem a podridão para as nossas boquinhas abertas e piacentas. Simplificando: enquanto pedirmos carniça, sempre haverá alguém para nos alimentar.

É por isso que hoje vou terminar pelo seguinte:

– Qualé, moçada?! Enquanto vocês ficam entretidos com o maior assunto do momento, as piadinhas bestas e os livros que ninguém lê passam batidos, batidos...




Maicon Tenfen.

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