terça-feira, 28 de outubro de 2008




Por: Claudio Leal

Especialista em cenários políticos, o sociólogo e consultor Antônio Lavareda avalia que a vitória de Gilberto Kassab (DEM), em São Paulo, "hierarquizou" a disputa interna no PSDB para a sucessão presidencial de 2010. O governador paulista José Serra levaria vantagem sobre o mineiro Aécio Neves na queda-de-braço pela candidatura.

Em Belo Horizonte, o candidato de Aécio e do PT, Marcio Lacerda (PSB), venceu com 59% dos votos válidos, no segundo turno. Mas não houve a esperada facilidade. Em São Paulo, Kassab angariou 60% dos votos, o que representa uma vitória pessoal de Serra, que havia rifado a candidatura tucana de Geraldo Alckmin, no primeiro turno. Lavareda ressalva que o resultado em Minas reabilitou Aécio. Entretanto, indica um vencedor:

- Se você tiver que apontar o grande vitorioso do PSDB, é consensual a identificação do governador Serra como o grande beneficiário - diz Lavareda.

Em entrevista a Terra Magazine, o sociólogo analisa o crescimento do PMDB e a relação da popularidade de Lula com o pleito municipal.

Leia a conversa:

- O senhor concorda com a tese de que o presidente Lula não transferiu votos, apesar da alta popularidade, e se torna mais difícil fazer o sucessor, em 2010?
Antonio Lavareda - A despeito de ele ter 80% de aprovação, segundo as pesquisas, os candidatos apoiados por Lula não foram expressivamente beneficiados. Ou seja, os levantamentos nas grandes capitais no segundo turno mostraram que os desempenhos dos candidatos, entre os que aprovavam o governo de Lula e os que não aprovavam, eram extremamente semelhantes. O apoio de Lula não foi um diferencial importante para a decisão do voto no segundo turno.

Isso seria uma característica das eleições municipais?
O fato de ser eleição municipal, é verdade, mas também mostra que, a despeito da elevada popularidade dele, não se dá, automaticamente, uma transferência desse prestígio para o volume das intenções de voto.

Como pode ser avaliado o crescimento do PMDB? Ele cresce, mas é um partido fragmentado.
Acho importante o crescimento do PMDB porque vai levar o partido a demandar uma fatia do governo federal maior do que a que já detém hoje, os cinco ministérios. O crescimento é também importante porque vai, inevitavelmente, levar ao aumento da bancada do partido nas eleições federais, estaduais, em 2010. Porque os prefeitos e vereadores são os maiores cabos eleitorais de candidatos a deputado federal e estadual. Então, é provável que o PMDB venha a fazer uma grande bancada, em 2010. Isso desde logo o habilita, independentemente do governo que venha a ser eleito, a ser um fator imprescindível para o próximo governo federal.

E o PT?
O PT cresceu nos médios municípios, embora tenha recuado nas capitais. Cresceu no conjunto do País e nos médios municípios. O problema do PT é que a expectativa despertada em relação ao desempenho do partido se mostrou extremamente descolada da realização nas urnas.

Não é estranho esse recuo do PT em grandes cidades?
Mas cresceu nos médios. Não teve um desempenho satisfatório nas capitais. Não fez nenhum prefeito no Sul do País, no Sudeste. Os prefeitos eleitos foram, basicamente, no Norte/Nordeste.

No PSDB, a disputa antecipada entre Aécio Neves e José Serra...
Pela eleição municipal, essa disputa hierarquizou um pouco, saiu um pouquinho hierarquizada, beneficiando, no primeiro momento, o governador de São Paulo, José Serra.

Mas, com o resultado de Belo Horizonte, Aécio também não se enfraquece.
O resultado de Minas o reabilitou, em certa medida. Mas, de qualquer forma, se você tiver que apontar o grande vitorioso do PSDB, é consensual a identificação do governador Serra como o grande beneficiário.

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